quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Vídeo de "OS SEMINOVOS"

Desenhos de Maurício Ricardo

TEXTO DE WALT WHITMAN



PENSAMENTOS



Da propriedade — como se alguém
apto a possuir coisas não pudesse
entrar na posse delas à vontade
e incorporá-las, a ele ou a ela;
da vista — pressupõe um olhar para trás,
atravessando o caos em formação
a imaginar a evolução, a plenitude, a vida
a que se chega na jornada agora
(eu porém vejo a estrada continuando,
e a jornada sempre a continuar);
do que uma vez faltava sobre a terra
e que a seu tempo foi propiciado
— e do que ainda está por ser propiciado,
pois tudo o que eu vejo e sei
creio ter seu sentido mais profundo
no que ainda está por ser propiciado.

in "Leaves of Grass"

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

DESCONSTRUÇÃO

(Marko Andrade e Iverson Carneiro)
Intérprete: Marko Andrade

Gravado no Largo da Prainha, Praça Mauá/RJ, durante o Projeto POESIA NO POSTE de 02/12/2009


2 Poemas do Moleque Velho em Destaque



ENTREGADOR DE JORNAL


Lá vem ele,
com uma calma
que é só dele.

O carrinho (cheio de jornais)
treme sobre
as pedras portuguesas.

E o jornal
chega, cheirando
a notícia nova.



SEM FALA


O nada
em que me escondo,
que parece pedra,
é verbo.

E o verbo,
feito pedra,
me ensangüenta
a face.

Não tenho,
por testemunha,
nenhuma pedra,
só verbo.

E verbo não fala,
fala-se por ele.
E a pedra,
muda.

Iverson Carneiro
Rio,12/11/2009

3 CURTAS DE MANAÍRA CARNEIRO

Matéria Ltda.

Esquadros

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Theremin Freak

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CULTURA BRASILEIRA

31 DE OUTUBRO: DIA DA BRIGA DO SACI PERERÊ COM AS BRUXAS


Dia 31 de outubro pode ser classifcado como o período anual da briga entre a bruxa e o saci. É nesta data que alguns países, em especial os Estados Unidos, comemoram o Halloween. Eque o Brasil - em uma atitude de resistência cultural - homenageia o seu folclore, com o Dia do Saci.


O Projeto de Lei 2479/2003, que pede a instituição da data no calendário brasileiro, afirma que “a sua intenção é ensinar às crianças que o país também tem seus mitos, difundindo a tradição oral, a cultura popular e infantil, os mitos e as lendas brasileiras”. Ou seja, um antídoto contra a invasão da cultura estrangeira, em favor da preservação dos valores verde-amarelos.
O Halloween foi popularizado pelos Estados Unidos, mas tem duas origens. Primeiramente a data marcava o início do inverno para o povo celta, que associava a estação aos mortos e à escuridão, daí as fantasias de fantasmas, bruxas e monstros. Na religião católica, houve uma tentativa de frear estas comemorações pagãs, por isso passou-se a celebrar a véspera do dia de todos os santos (em inglês: "All hallow's eve").
Enfim, essa é uma história que nada tem a ver com o Brasil e sua gente. Já o dia do Saci- Pererê é uma ode a um personagem típico brasileiro, como forma de valorizar a cultura nacional. Conhecido por usar um gorro vermelho, pular de uma perna só e fazer brincadeiras, o Saci é parte de uma lenda que originou-se entre as tribos indígenas do sul do Brasil.
Inicialmente, o saci era retratado como um curumim endiabrado, com duas pernas, cor morena, além de conhecedor e defensor da floresta. No século 17, foram encontrados os primeiros registros sobre o Saci e, ao percorrer o território nacional, a lenda foi sendo adaptada e modificada por onde passava. Por esse motivo, o menino passou por algumas modificações ao longo da vida.
Com a influência da mitologia africana, o Saci se transformou em um negrinho que perdeu a perna lutando capoeira, além disso, herdou o pito, uma espécie de cachimbo, e ganhou da mitologia européia, um gorrinho vermelho. Já desta forma ele aparece como um dos principais personagens dos livros de Monteiro Lobato, na série Sítio do Picapau Amarelo, responsável por uma grande exposição e reconhecimento do Saci em todo país.
A principal característica do Saci é a travessura. Brincalhão, ele se diverte com os animais e com as pessoas, e acaba causando transtornos como: fazer o feijão queimar, esconder objetos, jogar os dedais das costureiras em buracos e etc.
A lenda que envolve o Saci foi passada entre tribos e gerações, fazendo com que cada um adicionasse ou adaptasse sua versão da história. Segundo alguns relatos, o Saci pode desaparecer em um lugar e aparecer em outro. Também se diz que está nos redemoinhos de vento e pode ser capturado jogando uma peneira sobre os redemoinhos. Após a captura, deve-se retirar o capuz da criatura para garantir sua obediência e prendê-lo em uma garrafa.
Personagem de narrativas do interior, o Saci é menos reconhecido nas cidades grandes. O alcance internacional quase não existe por ser parte de uma cultura muito típica do paíse pouco divulgada no exterior. Então, no quesito popularidade, o Saci ainda está perdendo feio para as bruxas, fantasmas e abóboras do Halloween. Daí a importância de ressaltar o Dia do Saci, uma data feita para que os próprios brasileiros resgatem sua rica cultura, valorizando mais esse mocinho tão carismático do folclore
.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

2 POEMAS CURTOS

OUVIDO ATENTO


Sempre atento,
ouço o que dizem
ao meu redor,
escrevo
e sigo.

Desavisado,
vem alguém
dizendo-me poeta:
fama injusta
que carrego.

por JL Semeador
em 07/10/2009



SINAIS TROCADOS


Chove vento,
sopra chuva
e é primavera.

O poema, ao relento,
sofre as intempéries
da falta de inspiração.

Iverson Carneiro
Rio, 09/10/2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

POEMA DE BRÁULIO TAVARES

O CASO DOS DEZ NEGRINHOS
(Romance Policial Brasileiro)


Dez negrinhos numa cela
e um deles já não se move.
Fugiram de manhã cedo,
mas eram nove.

Nove negrinhos fugindo
e um deles, o mais afoito,
dançou: cruzou com uma bala...
Correram oito.

Oito negrinhos trabalham
de revólver e canivete;
roupa caqui vem chegando,
fugiram sete.

Sete negrinhos passando
pela rua de vocês;
alguém chamou a polícia,
correram seis.

Seis negrinhos dão o balanço:
bolsa, anel, relógio, brinco...
Houve um erro na partilha,
sobraram cinco.

Cinco negrinhos de olho
na saída do teatro.
Um vacilou, deu bobeira...
Correram quatro.

Quatro negrinhos trombando,
todos quatro de uma vez.
Um deles a gente agarra,
mas fogem três.

Três negrinhos que batalham
feijão, farinha e arroz.
Um se deu mal: a comida
dava pra dois.

Dois negrinhos se embebedam
de Brahma, cachaça e rum.
Discussão, briga, navalha...
e fica um.

E um negrinho vem surgindo
no meio da multidão.
Por trás desse derradeiro...
vem um milhão.

CONTO


O CASO DA VOZ


“Será?!” - o inspetor Jozildo encafifado.
Noite entrando na noite, acendendo os milhares de bicos de luz do morro ao fundo, que emolduram o som seco das rajadas.
A pequena rua do bairro dissimula uma calmaria que não convence o inspetor Jozildo. O movimento de carros é quase nenhum. Barulho, barulho mesmo, vem da igreja em frente e da radiola de ficha que toca CDs no botequim, onde um grupo de policiais comemora o sucesso da última incursão - dois traficantes mortos, mais de duzentas trouxinhas de maconha e um incontável número de papelotes apreendidos - na noite anterior. Agora estão de folga, que ninguém é de ferro.
O boteco é minúsculo e em seu salão espremem-se seis mesas. Cinco são para os fregueses, oito no mínimo em cada uma. A do fundo é cativa do apontador do bicho. No balcão freezer biscoitos, balas, paçocas e outras guloseimas, refrescos de diversas marcas e a velha caixa registradora. Em cima do balcão do fundo a pia engordurada, a cafeteira, o espremedor de laranjas, um velho liquidificador, um paninho sujo e rasgado e uma esponja esfarrapada. Copos e pratos mal lavados. Na parede, prateleiras devoradas por cupins equilibram garrafas de bebidas diversas. Cachaças, conhaques e licores baratos, uma paisagem com moldura e um poster do time do Flamengo dos tempos de Zico e cia.
A igreja, ao contrário, a despeito de ter nascido quase um barraco, cresceu e agora é um belo templo, orgulho do pastor e da comunidade.
“Quem pode mais do que Jesus?” - a voz, provocando os fiéis.
“Ninguém! Aleluia! - o povo, vibrante.
“Cantemos em nome do Senhor Jesus!” - a voz.
“Aleluia! Glória a Deus, Senhor!” - o povo. Cada vez mais envolvido.
“Hino” - todos cantam ao som de uma banda de guitarra, contrabaixo, bateria e teclado, tudo conduzido pela voz.
“Será?!” - o inspetor Jozildo. Vira mais uma dose de conhaque barato.
Um bêbado entra no boteco tropeçando nas próprias pernas e nas de outros fregueses. É empurrado mas não liga. Vive da própria desgraça e nela não cabem mais personagens. - “Puta! Puta safada! Eu te mato! Eu vô matá essa puta! Ninguém vai me fazê de corno! E vô matá o sacana do amante dela, também! Ninguém me faz de corno!” - o bêbado, inexoravelmente trôpego.
“Seu guarda, eu não sou delinquente…” - a radiola vomita o brega, como se também estivesse bêbada.
“Será?!” - o inspetor Jozildo, tentando entender o magnetismo daquela voz que assim, noite entrando pela noite, parece tão crente, tão convicta.
“Será?!”
Sete dias atrás ele recebera da chefia a missão de investigar uma série de assassinatos intrigantes. Primeiro foi uma mulher negra aparentando dezoito ou dezenove anos. Mais uma negra e por último uma loura, ambas parecendo ter a mesma idade da primeira vítima. Todas apresentavam marcas de tortura nos braços, pernas, seios; todas violentadas sexualmente e com uma apenas bala na cabeça. Mas o intrigante do caso mesmo são os CDs. A mesma música frenética, os mesmos gemidos, a mesma voz. Sobre o púbis de cada um dos corpos mutilados.
“Tira, gostosa, tira logo esse topzinho e dá esses peitinhos pra gente chupar! Isso, mostra, vira pra nós! Que peitinhos! Em nome de Jesus! Aleluia! Tira essa sainha de uma vez! Vira essa bundinha pra cá! Dá pra gente morder! Tira essa sainha e vira essa bundinha pra cá! Ai, que loucura! Agora tira a calcinha! Assim! Mostra a buceta pra nós! Dá ela pra nós! Ai, eu tô gozando! Gozemos todos juntos! Em nome de Jesus! Aleluia!” - a voz dos CDs.
O curso das investigações o levaram a uma boite do centro da cidade. Ao entrar deparou-se com três vitrines cercadas por populares que se masturbavam, onde três mulheres belas e jovens faziam strip-tease ao som da mesma música, dos mesmos gemidos e - “Tira, gostosa, tira logo esse…” - da mesma voz. A mesma gravação das fitas encontradas junto às mortas. “Elas certamente trabalharam ali. E dali, com certeza, foram levadas para a morte. “Quem as matou?” - o inspetor Jozildo. Não tinha a mínima idéia, a mínima pista. Agora, ali, naquele boteco, e aquela voz.
Sons de sirenes e rajadas vindos do morro. Ruídos de vozes abafadas vindas da rua. Carros poucos. Garrafas muitas. Cheias e vazias. Tim-tins dos copos. Bêbados, poetas, putas, cafetões, travestis se misturam.
Hinos e orações a plenos pulmões do outro lado da rua . A sinfonia da algazarra.
“Seu Elias, desce mais uma!” - o cafetão da penúltima mesa.
“Cadê o meu aipim frito?!” - o peão agarrado a uma puta.
“Algum irmão doente quer se curar em nome do Senhor Jesus?!” - a voz da igreja.
“Seu Elias, cadê a minha loura?” - o cafetão insiste.
“Me dá um caldinho, seu Elias?!” - o bêbado quase caindo.
“Eu, pastor!” - uma jovem bela e aparentemente cega.
“Eu também!” - um velho em cadeira de rodas.
“Seu Elias, a minha loura, porra!” - o cafetão, irritado.
“Já vai! Num tá vendo que essa merda de bar tá botando bebum pelo ladrão?! Eu sou um só, porra!
“Levanta e anda, irmão! Em nome do Senhor Jesus!” - a voz. O velho levanta e sai andando, primeiro claudicante, depois com firmeza.
“Ele andou, irmãos! Em nome do Senhor Jesus, ele andou! Aleluia!” - a voz, frenética.
“Aleluia! Em nome de Jesus! Aleluia!” - transe geral na igreja.
“Será?!” - o inspetor Jozildo.
Mais tiros e mais sirenes vindos do morro. Um comboio de pivetes algemados entre si, passa escoltado por um grupo de PMs. fortemente armados. São todos negros e cabisbaixos. Todos. PMs. e pivetes. Apesar da falsa arrogância dos fardados.
Os fregueses do boteco correm para a porta a fim de saborear a cena. Até o cafetão. Precisa aproveitar enquanto pode. Qualquer dia desses vai ser com ele.
Um silêncio domina a rua. Ou melhor, um pedaço dela.
Os policiais amigos do inspetor Jozildo também se levantam e pedem a conta. Pagam. “Vamos, inspetor.” - um policial para Jozildo.
“Não. Eu vou ficar mais um pouco.” - o inspetor Jozildo. Ele não quer ir embora. Ele quer ficar ali. Ele precisa ficar ali.
“Aleluia, irmã! Em nome de Jesus!” - a voz. Coloca as mãos sobre os olhos da mulher e aperta com força. - “Para onde só há trevas que o Senhor Jesus traga a luz! Aleluia!”.
“Aleluia! Em nome do Senhor Jesus!” - vozes da platéia em coro.
“Abre os olhos, irmã! O Senhor Jesus te devolveu a
luz! Aleluia!” - a voz, elevando fortemente o tom.
“Eu tô vendo! Eu tô vendo! Aleluia! Em nome do Senhor Jesus! Eu tô vendo! Aleluia!” - a mulher demonstrando espanto.
“Aleluia! Em nome de Jesus!” - toda a platéia. Histeria generalizada.
“Oremos, irmãos! Em nome do Senhor Jesus, oremos pelo irmão que andou! Aleluia!” - a voz estimulando o clima de histeria.
“Aleluia!” - todos.
“Oremos pela irmã que enxergou! Aleluia!” - a voz.
“Aleluia!” - todos.
“Oremos e cantemos para celebrar o Senhor Jesus!” - a voz canta acompanhada pela banda. Todos cantam.
A voz penetra cada vez mais nítida na intuição policial do inspetor Jozildo. Ele não tem mais dúvidas. É ela. Sabe que pouco ou nada pode contra aquela voz potente e poderosa. Mas não quer sair dali. Quer ficar ali. Precisa ficar ali. Para saborear a sensação do dever cumprido. Tem certeza que resolveu mais um caso. Ainda que tenha de calar. Mesmo que não possa falar nada pra ninguém.
“Tira essa calcinha duma vez, porra! Em nome de Jesus!” – “Seria a mesma voz?” - pensativo o inspetor Jozildo
“Essa voz!” - assustado com a própria descoberta.
“Mas, e se estiver enganado?”
“Será?!”.

POLÍTICA

A LIÇÃO QUE LULA DEU AO RIO DE JANEIRO E AO BRASIL

Texto extraído do Blog do Leandro Fortes


Lula poderia ter agido, como muitos de seus pares na política agiriam, com rancor e desprezo pelo Rio de Janeiro, seus políticos, sua mídia, todos alegremente colocados como caixa de ressonância dos piores e mais mesquinhos interesses oriundos de um claro ódio de classe, embora mal disfarçados de oposição política. Lula poderia ter destilado fel e ter feito corpo mole contra o Rio de Janeiro, em reação, demasiada humana, à vaia que recebeu – estranha vaia, puxada por uma tropa de canalhas, reverberada em efeito manada – na abertura dos jogos panamericanos, em 2007, talvez o maior e mais bem definido ato de incivilidade de uma cidade perdida em décadas de decadência. Vaiou-se Lula, aplaudiu-se César Maia, o que basta como termo de entendimento sobre os rumos da política que se faz e se admira na antiga capital da República. Fosse um homem público qualquer, Lula faria o que mais desejavam seus adversários: deixaria o Rio à própria sorte, esmagado por uma classe política claudicante e tristemente medíocre, presa a um passado de cidade maravilhosa que só existe, nos dias de hoje, nas novelas da TV Globo ambientadas nas oníricas ruas do Leblon.
Lula poderia ter agido burocraticamente a favor do Rio, cumprido um papel formal de chefe de Estado, falado a favor da candidatura do Rio apenas porque não lhe caberia falar mal. Deixado a cidade ao gosto de seus notórios representantes da Zona Sul, esses seres apavorados que avançam sinais vermelhos para fugir da rotina de assaltos e sobressaltos sociais para, na segurança das grades de prédios e condomínios, maldizer a existência do Bolsa Família e do MST, antros simbólicos de pretos e pobres culpados, em primeira e última análise, do estado de coisas que tanto os aflige. Lula poderia ter feito do rancor um ato político, e não seria novidade, para dar uma lição a uma cidade que o expôs e ao país a um vexame internacional pensado e executado com extrema crueldade por seus piores e mais despreparados opositores.
Mas Lula não fez nada disso.
No discurso anterior à escolha do Comitê Olímpico Internacional, já visivelmente emocionado, Lula fez o que se esperava de um estadista: fez do Rio o Brasil todo, o porto belo e seguro de todos os brasileiros, a alma da nacionalidade. Foi um ato de generosidade política inesquecível e uma lição de patriotismo real com o qual, finalmente, podemos nos perfilar sem a mácula do adesismo partidário ou do fervor imbecil das patriotadas. Lula, esse mesmo Lula que setores da imprensa brasileira insistem em classificar de títere do poder chavista em Honduras, outra vez passou por cima da guerrilha editorial e da inveja pura e simples de seus adversários. Falou, como em seus melhores momentos, direto aos corações, sem concessões de linguagem e estilo, franco e direto, como líder não só da nação, mas do continente, que hoje o saúda e, certamente, o aplaude de pé.
Em 2016, o cidadão Luiz Inácio da Silva terá 71 anos. Que os cariocas desse futuro tão próximo consigam ser generosos o bastante para também aplaudi-lo na abertura das Olimpíadas do Rio, da qual, só posso imaginar, ele será convidado especial.



Agência Carta Maior - 02/10/2009
O BRASIL DERROTA OS CORVOS
Emir Sader
“Corvo” foi o nome que ganhou Carlos Lacerda, como ave que busca rapina onde houver, senão, inventa. É o espírito udenista, golpista, que sucumbiu sucessivamente à liderança de Getúlio e das forças populares. Não ganhavam eleições, iam bater nas portas dos quartéis (“vivandeiras de quartel”, eram chamados), para tentar, pela força, o que não conseguiam pela persuasão. Até que, com o apoio decidido do governo dos EUA e da mídia – a mesma que agora: Globo, Folha, Estadão -, deram o golpe e instauraram a ditadura militar, que tantos males fez ao país.
Suas características são muito similares às dos corvos de hoje: são brancos, de classe média, odeiam o povo, tem seu núcleo básico em São Paulo, se agrupam em torno da imprensa, têm uma sólida convicção de que têm razão (mesmo contra todas as evidências e a grande maioria dos brasileiros), se refugiam em denuncias moralistas, detestam a América Latina e o sul do mundo (adorando os EUA e a Europa), crêem que São Paulo é a “locomotiva do país”, que arrasta os outros estados preguiçosos (o mesmo sentimento da sublevação de 1932, que eram separatistas). Também têm como característica ser sempre derrotados, tendo que apelar para suas armas preferidas – a força dos golpes e o monopólio da imprensa.
A campanha para trazer as Olimpíadas ao Brasil possibilitou distinguir os que amam o Brasil, mais além dos seus problemas e com todos os seus problemas, e os que têm suas almas corroídas pelo ódio, torceram e militaram contra o Brasil. (Um deles convenceu seus leitores a tal ponto que numa consulta que fez, ganhou Chicago contra o Brasil.) Agora se vestem de luto – a cor dos corvos – e já têm temas para amargurar o resto das suas vidas, até 2016. Para os que têm alma pequena, segundo Fernando Pessoa, a vida não vale a pena.
Estão há anos incomodados que o Brasil dê certo governado por um operário, sindicalista de base, nordestino, sem diploma universitário, que perdeu um dedo na máquina, enquanto aquele do qual são viúvas - supostamente a pessoas melhor qualificada para dirigir o Brasil - fracassou estrepitosamente e é repudiado pelo povo. Tem a alma corroída pelo ódio, pelo despeito, pelo rancor.
Lula tinha que dar errado, como Evo tinha que dar errado, como Hugo Chávez tinha que dar errado. Um é de origem nordestina e operária, o outro é indígena, o terceiro é um mulato. Mas quem fracassou foram os tucanos, aqui, com FHC, na Bolívia, com Sanchez de Losada, na Venezuela, com Carlos Andrés Perez. Não por acaso o governo de FHC apoiava àqueles, Lula apóia aos que os sucederam e, estes, por sua vez, têm a Dilma como candidata.
Essa geração de lacerdistas, corvos do século XXI, precocemente envelhecidos, pela frustração e pelo rancor, vegetarão o que lhes resta viver, ruminando reclamações contra o Campeonato Mundial de 2014 e contra os Jogos Olímpicos de 2016. Enquanto a caravana do povo brasileiro passa.

MORRI DE RIR

30 dicas para escrever bem


Autor: Professor João Pedro, da UNICAMP


1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.

2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.

3. Anule aliterações altamente abusivas.

4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.

5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.

6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.

7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.

8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou??... então valeu!

9. Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.

10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.

11. Evite repetir a mesma palavra pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.

12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem cita os outros não tem ideias próprias".

13. Frases incompletas podem causar

14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma ideia várias vezes.

15. Seja mais ou menos específico.

16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!

17. A voz passiva deve ser evitada.

18. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula pois a frase poderá ficar sem sentido especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?

20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.

21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.

22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-las-ei!"

23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.

24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!

25. Evite frases exageradamente longas pois estas dificultam a compreensão da ideia nelas contida e, por conterem mais que uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam, desta forma, o pobre leitor a
separá-la nos seus diversos componentes de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.

26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língüa portuguêza.

27. Seja incisivo e coerente, ou não.

28. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar causando ambigüidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as
coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.

29. Outra barbaridade que tu deves evitar chê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras, carajo!... nada de mandar esse trem... vixi... entendeu bichinho?

30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá agüentar já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.



domingo, 4 de outubro de 2009

INTELIGÊNCIA PROVOCADA AO LONGO DA HISTÓRIA

Cuidado, provocar pessoas inteligentes pode ser muito perigoso!

Certa vez Einstein recebeu uma carta da miss New Orleans onde dizia a ele:
- Prof. Einstein, gostaria de ter um filho com o senhor. A minha justificativa se baseia no fato de que eu, como modelo de beleza, teria um filho com o senhor e, certamente, o garoto teria a minha beleza e a sua inteligencia.
Einstein respondeu:
- Querida miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza.

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Quando Churchill fez 80 anos um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse:
- Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.
Resposta de Churchill:
- Por que não? Você me parece bastante saudável.

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Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto:

Convite de Bernard Shaw para Churchill:
"Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentaão minha peça Pigmaleão.
Venha e traga um amigo, se tiver." (Bernard Shaw).

Resposta de Churchill:

"Agradeço ilustre escritor honroso convite.
Infelizmente não poderei comparecer primeira apresentaão. Irei à segunda, se houver." (Winston Churchill.).

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O General Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na IIª Guerra Mundial.
Discurso do General Montgomery:
“Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói”.
Churchill ouviu o discurso e, com ciúme, retrucou:
“Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele”.

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Bate-boca no Parlamento inglês

Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, do tipo Heloisa Helena do PSOL, que pediu um aparte.
Todos sabiam que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos mas, concedeu a palavra à deputada.
E ela disse em alto e bom tom:
- Sr. Ministro, se V. Excia. fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá!
Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a platéia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, lascou:
- Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

3 T-IRADAS POÉTICO ECOLÓGICAS DE MILTON AGUIAR

Quanto mais
Livros
Mais Homens
Livres


I

Tem muita gente por ai
que está mais preocupada

com o verde
da grana

que com o verde
da grama


II

Agora
a guerra
é a da água

estão liquidando
o liquido


III

Consumo!
Assumo?
Viro suco,
ou sumo!
Acúmulo,
o cumulo,
o máximo
do supra sumo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

REJEIÇÃO EM 3 ATOS

(porque o tempo morre quando é longo e mata quando é curto)



Manaíra Carneiro



1° ATO: Começo do Fim

O Sol abre as pálpebras precocemente.
Ali há, ainda, a febre dos sonhos,
o conforto dos lábios cálidos.
Estes que dormiram na pele sem nada levar;
e são os mesmos que dão à testa
um toque suave.


2° ATO: FIM

A mudança da pluma ao vento, deu-me.
Disse que pagava pela dor que antes causara.
Atestou que um banho quente cairia bem,
que o sono da TV alumiaria o pesar.

Aos braços, o abraço
e ao peito, o vazio.
Disse que vem da existência
esse tal vazio.


3° ATO: DESAPEGO

Um samba de gratidão,
o aroma da saudade;,
o alívio vazio de estar só,
o desespero da rejeição.

domingo, 27 de setembro de 2009

O MULTIMÍDIA PEDRO OSMAR



por Iverson Carneiro



Ouvi falar pela primeira vez em PEDRO OSMAR em janeiro de 1975 quando, ainda quase cabaço em matéria de festivais de teatro, assisti no Teatro Miguel Lemos à peça A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO, dirigida por Luíz Mendonça, outra grande descoberta para os meus olhos de jovem ator adolescente. Morava então em Belém e participava do Grupo de Teatro da Escola Técnica Federal do Pará. Anos depois, pelos idos de 1979, reencontrei Pedro em João Pessoa, profundamente envolvido em projetos culturais ligados umbilicalmente aos movimentos populares e a uma inquietante necessidade de experimentar todas as possibilidades da linguagem. Já tinha fundado o Grupo de Música Experimental JAGUARIBE CARNE e estava às voltas com a criação de um projeto denominado LÁ VEM A MOÇADA PELAS RUAS DA CIDADE, que acabou servindo de embrião para dois momentos importantes da cultura paraibana. As criações do Movimento dos Escritores Independentes e do MUSICLUBE da Paraíba. Em sua constante inquietação estética, Pedro Osmar acabava por agrupar em torno de si, uma gama de gente solta, em busca de um cais onde ancorar suas criações. E assim foi com vários artistas paraibanos, a começar pelo seu próprio irmão Paulo Ró, mais Chico César, Vandinho de Carvalho, Magalhães, Jorge Negão, Totonho, Escurinho e tantos outros. E assim foi comigo que, durante um bom tempo, mergulhei de cabeça no universo criativo deste fascinante artista. E a partir desse mergulho, forjei a profunda transformação que aconteceria posteriormente na minha poesia
.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

segunda-feira, 27 de julho de 2009

CAPA DO LIVRO

O livro MOLEQUE VELHO, do poeta Iverson Carneiro, ainda pode ser adquirido, ao preço de R$ 20,00 (sem despesas de correio), pelo email molequevelho@yahoo.com.br

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Exclusivo: cineasta paraibana fala sobre filme inédito em favelas cariocas


entrevista concedida pela cineasta paraibana Manaíra Carneiro ao site JANELA CULTURAL, de João Pessoa



Produzido por Cacá Diegues, filme conta com antigos e novos realizadores

Por Marcelo Soares

Em 1962, o filme Cinco vezes Favela foi lançado tornando-se a única incursão cinematográfica do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE) que conseguiu ser finalizada. Quarenta e seis anos depois a Luz Mágica Produções, produtora de Carlos Diegues e Renata de Almeida Magalhães, está produzindo o longa-metragem “Cinco Vezes Favela, Agora por nós mesmos”, escrito, dirigido e realizado por jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro, treinados e capacitados a partir de oficinas profissionalizantes de audiovisual ministradas por grandes nomes do cinema brasileiro, como Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Walter Lima Jr., Daniel Filho, Walter Salles, Fernando Meirelles, João Moreira Salles.
Um desses novos cineastas é a paraibana Manaíra Carneiro, a mais jovem do grupo com 21 anos, moradora de Higienópolis, teve sua primeira experiência com cinema em curso do Cinemaneiro, realizado em sua comunidade, em 2002. Terminou a Escola Técnica de Audiovisual e dirigiu o curta-metragem “Café Sem Chantilly”, com o grupo Cinemaneiro. Cursa a faculdade de Estudos Culturais e Mídia na Universidade Federal Fluminense. É integrante da OSCIP Cidadela – Arte, cultura e Cidadania. Em entrevista ao nosso portal ela fala sobre o trabalho no filme, que tem previsão de lançamento para o ano que vem.

Janela Cultural: Como surgiu para você o “Cinco vezes favela, Agora Por Nós Mesmos”?

Manaíra Carneiro: Comecei a fazer cinema em 2002, quando tinha 15 anos. Na época, um grupo de jovens pertencentes a uma cooperativa de cinema chamada Fora do Eixo realizava oficinas de cinema em comunidades que beiravam a via expressa linha amarela que tem aqui no Rio – as oficinas acontecem até hoje e se chamam “Cinemaneiro” -. Então houveram inscrições para essa oficina em minha comunidade, me inscrevi e fui selecionada para assistir as aulas. Depois disso não parei mais de trabalhar na área, aliás, nunca fiz outra coisa da minha vida além de estudar. As oficinas cresceram e os ex-alunos, como eu, sentiram necessidade de ter um local para desenvolvimento dos projetos, como uma produtora mesmo. Nesse momento a Fora do Eixo não estava dando mais certo e acabou. Então, os coordenadores do Cinemaneiro, Frederico Cardoso e Viviane Ayres, nos propuseram a criação da OSCIP CIDADELA – Arte, cultura e Cidadania. Hoje faço parte da Cidadela e realizo meus projetos através dela.
No caso do 5x Favela, o Cacá Diegues entrou em contato com a Cidadela propondo a participação em um dos episódios, daí ele organizou a oficina de roteiro na qual o Rafael Dragaud deu aula, e dessa oficina saiu nosso argumento através dos votos da turma de roteiro. Depois cada grupo trabalhou nesse argumento dando origem a 1ª versão desse roteiro que foi usado nesses últimos 3 anos para a captação de recursos para a realização do filme.
Janela Cultural: Antes da produção do filme ocorreram oficinas durante os meses de abril e maio com 229 Jmoradores de diferentes comunidades. Qual sua opinião a respeito de projetos como esse?

Manaíra Carneiro: Participei de todo o processo das oficinas , inclusive fui aluna na oficina de direção ministrada pelo Ruy Guerra e Janaína Diniz, além da oficina de direção de atores que foi dada pelo Walter Lima. Foi ótimo. As oficinas me deram mais segurança para dirigir um filme com esse porte.
Esse filme está acontecendo de forma única, pois nunca houveram produções com esse porte que absorvessem tantos profissionais iniciantes e oriundos de classes baixas. O cinema brasileiro ainda é dominado pelas classes com maior poder aquisitivo e esse filme representa uma abertura para novos profissionais e novos olhares tornando o cinema mais plural, fazendo com que as pessoas digam elas mesmas como são, o que fazem e como fazem, não é justo que outras pessoas contem nossas histórias se nós temos a capacidade de contá-las por nós mesmos. Acho que o cinema brasileiro como um todo está vivendo um momento de ampliação de olhares e renovação e o “5x Favela – Agora Por nós mesmos” – é um forte candidato a marco dessa transformação.

Janela Cultural: Você acha que o “Cinco vezes favela” de 1962 tinha uma visão pouco explorada da realidade de uma favela?

Manaíra Carneiro: Vi o primeiro 5x Favela há alguns anos e o Cacá nos pediu que não víssemos novamente, então não vi de novo, até porque o filme é de difícil acesso. Vou comentar o que lembro. Não acho que a visão sobre a favela do primeiro “5x favela” tenha sido pouco explorada, são filmes ficcionais, não podemos perder isso de vista, além de serem bem poéticos, talvez tenha sido uma visão romântica, o que ao meu ver, foi uma ótima opção para retratar realidades tão duras num momento em que o país não conhecia tais brasileiros. Cada diretor vai traçar um ponto de vista num determinado espaço de tempo, então a exploração da temática sempre vai perder de alguma forma, porque sempre temos escolhas a fazer no sentido que quando se opta por uma coisa, imediatamente se perde outra, e no cinema nenhuma escolha é errada, são pontos de vista diferentes apenas.

Janela Cultural: Seu capítulo no filme, “Fonte de renda”, é sobre um jovem negro que vai para a faculdade. Por que a escolha dessa temática?

Manaíra Carneiro: Não fui eu quem escolheu a temática, apesar de me identificar bastante com ela. O argumento do roteiro saiu da oficina de roteiro feita lá na OSCIP CIDADELA. Esse tema é bem contemporâneo, hoje temos muitos jovens pobres e negros ingressando em universidades, por isso é relevante, além de ser bem parecido com a minha realidade e com a do Wagner que vai dirigir junto comigo, nós dois passamos para uma universidade, eu to na Universidade Federal Fluminense e ele na Estácio. Há cenas no episódio que tiramos do nosso dia-a-dia mesmo.

Janela Cultural: Você acha que a lei de cotas para negros é uma alternativa que dará resultados a longo prazo?

Manaíra Carneiro: Acho que a lei de cotas é fundamental como um primeiro passo para diminuir o abismo educacional entre as classes e prestar um mínimo de solidariedade aos negros que tanto sofreram e sofrem até os dias atuais, afinal o Brasil deve muito a eles ainda, mas ela por si só não é a solução do problema. Todo ensino de base é uma vergonha, por exemplo, e as universidades não constroem elos com a sociedade de maneira a não prestar serviços a comunidade civil, então não sei para onde vão todas as pesquisas que são financiadas, poucas retornam para a sociedade, essas normalmente tem investimentos de empresas privadas. Então cria- se essa distância enorme entra a Universidade e a Sociedade. Deixando o saber para poucos. E o sistema de cotas está ajudando nessa aproximação, espero eu.

Janela Cultural: Qual sua opinião sobre esse cinema nacional de maior cunho social?

Manaíra Carneiro: Acho que a arte já tem um cunho social por si só, ela não precisa de justificativas. O problema é que o cinema brasileiro estava em mãos de poucos e agora isso está mudando. Por isso as leis de incentivo e projetos como este são fundamentais, para ampliar nossa produção e dar oportunidade para que os artistas criem independente de sua condição social, aí teremos uma arte plural.
Os cinco filmes de ficção terão cerca de 20 minutos cada um, filmados em película e finalizados digitalmente, escritos, dirigidos e totalmente realizados por jovens cineastas moradores de favelas cariocas, sobre diferentes aspectos da vida em suas comunidades. Tem o apoio da Central única das favelas (CUFA), em Cidade de Deus, o Nós do Morro, no Vidigal, o Observatório de Favelas, no Complexo da Maré, AfroReggae, em Parada de Lucas e o Cidadela, com sede na Lapa e será distribuído pela Sony/Columbia do Brasil. São co-produtores do projeto a RioFilme e a Globofilmes, contando também com o patrocínio, através das leis de incentivo, do BNDES, da LAMSA (Linha Amarela) e da MMX (Eike Batista), e parceiras das empresas de cinema Quanta, TeleImage e Videofilmes.

Mais Informações: http://www.5xfavela.com.br/

sexta-feira, 12 de junho de 2009

POEMA DA SEMANA

SOBREVIVÊNCIA


Ainda que cortem minhas asas
Minha imaginação seguirá voando...
Ainda que me tirem as pernas
Seguirei andando de cabeça erguida...
Ainda que me arranquem os braços
Eles estarão sempre abertos e abraçando...
Ainda que me ceguem os olhos
Continuarei enxergando amor em tudo...
Ainda que me tapem os ouvidos
Escutarei sempre o meu coração...
Ainda que me calem a boca
Levarei a minha palavra adiante...
Ainda que me tirem todo o ar
Eu respirarei poesia...e sobreviverei!

Milene Sarquissiano

sexta-feira, 15 de maio de 2009

POEMA DO MOLEQUE VELHO EM DESTAQUE



SINCRETIZANDO



Vou baixar o Exu Caveira
no cavalo do Senhor Jesus;
se Ele for Deus de verdade,
os dois vão dar boas risadas
e deixar a santidade
com melecas no nariz.

Neste dia, os macumbas
vão bater no mundo inteiro,
e rodar saias floridas,
em tudo quanto é terreiro,
de África ao Maranhão,
Bahia e Rio de Janeiro.

Se Ele for Deus de verdade,
vai descer logo da cruz,
e os dois, braços dados,
rebentos da mesma paixão,
sambarão na passarela
da nova religião.

Nas ladeiras de Olinda,
em Gaza, no Olodum,
Bagdá e Mocidade,
onde houver alegria,
bêbados de amizade,
os dois vão sair por aí.

Iverson Carneiro

sábado, 11 de abril de 2009

POEMA DE MANAÍRA CARNEIRO


INTERIOR/EXTERIOR



O moço da sala de estar, está lá
o sino bate à porta, o vento entorta a horta.
E o moço parece estar.

Do outro lado é confortável,
do outro lado o Sol encontra a face,
lá fora a espera ´inevitável.

Renc!... Renc!... Renc!...
Os pés balançam através da brecha,
agora a poltrona interessa.

Renc!... Renc!... Renc!...
O som vem de dentro pra fora,
as mãos abrem a porta
e o moço parece estar.

...........(Silêncio)..........

Os lábios se calam ao olhar,
a moça quer beijar,
mas o moço apenas parece estar lá.

Manaíra Carneiro
Rio – 30/06/2009

domingo, 5 de abril de 2009

PIADA DO BLOG

10 HOMENS E 1 MULHER





Onze pessoas estavam penduradas numa corda num helicóptero. Eram dez homens e uma mulher. Como a corda não era suficientemente forte para segurar todos,
decidiram que um deles teria que se soltar da corda. Eles não conseguiram
decidir quem, até que, finalmente, a mulher disse que se soltaria da corda
pois as mulheres estão acostumadas a largar tudo pelos seus filhos e marido,
dando tudo aos homens e não recebendo nada em troca e que os homens, como a
criação primeira de Deus, mereceriam sobreviver, pois eram também mais
fortes, mais sábios e capazes de grandes façanhas...
Quando ela terminou de falar, todos os homens começaram a bater
palmas.......

quinta-feira, 12 de março de 2009

POLEM/Poesia no Leme

Poetas no POLEM , na homenagem à poeta MARLA DE QUEIROZ,
na foto de blusa branca. Em 03/06/2009


O POLEM é toda quarta,
sempre a partir das 19 horas,
no quiosque Estrela de Luz,
na Avenida Atlântica, em frente
ao La Fiorentina

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

POEMAS DE IVERSON CARNEIRO

inéditos


O poeta autografando seu livro MOLEQUE VELHO na Biblioteca Pública Municipal de Miracema - em 15/09/2006


RECEITA DE AVÔ-2005

aos meus netos Iverson e Shoghi


Junte uma porção
de sabedoria adoçada,
enes doses duplas
de paciência redobrada
e anos e anos
de aprendizado, com paixão.

Misture tudo.
Unte a forma
com o brilho
da idade acontecida
e leve ao forno,
em fogo brando.

O tempo
é o determinado
pelas tramas da vida.
Pronto:
lambuze os lábios,
saboreie um avô.



VADIO DE CASACA-2005


Quem quiser que me faça,
por Deus, um vadio de casaca,
uma sombra parada no ar,
uma estrada de chão,
um serafim lá do alto,
um devorador de emoções.

Quem quiser de mim outra coisa,
que escreva no quadro de avisos
o perigo a ser relatado
e delete o mau intencionado
do visor do computador
e me deixe somente o bandido.

Quem puder que me assalte
e assole com a velocidade do vento
e a força dos cinco sentidos;
um amor amplificado,
medido em decibéis de gemidos
e areia de ampulheta.

O relógio de ponto quebrado,
um fosso no chão, um labirinto,
um anjo bebendo absinto;
o tempo parado, outra coisa,
o vinho, o poeta, a palavra
e uma folha de papel de borrão.



SOBRE SONHOS-2006

pra MANAÍRA, minha filha


Lá vai ela,
centímetro a centímetro,
sonho crescendo.

Lá vai ela,
e aos meus olhos
mais que tudo que sonhei.

Ela e seus sonhos
(meus sonhos)
de menina mulher.

E de uma insônia
que me pega,
ela aproveita e segue
o canto que brota
do ventre das estrelas.

E cada verso que morre
se transforma em outro sonho,
que pinta de cores
as esquinas da cidade.

E tanto grita esse sonho,
que já não caibo mais em mim.
E tanto cresce esse sonho,
que já não cabe mais em si.



SOBRE POEMAS E PANOS-2006


Panos de prato
enxugam louças,
poemas enxugam
sentimentos.

Poemas
em panos de prato
enxugam
sentimentos de louça.



RETRATO DE VESTIDO VERDE-2001


O rosto claro,
desescondido na fotografia,
lençol branco
que a pureza pede
em romaria.

O rosto no retrato
não revela além
do que o vestido verde,
maliciosamente,
nos oferece e principia.

Seios alvos,
colo claro, ventre branquinho;
e pelos dourados,
que só o laser da poesia
dá de conta a imaginar.

Ah, vestido verde!
Teu cheiro de mantra,
invólucro vadio,
entontece o verbo
e tira o poeta do sério!



POESIA DA TERRA DOS HOMENS-2007


Cantar com o silêncio
a poesia da terra dos homens,
que fere e marca de saudade,
como faca amolada
no rosto do jagunço do coronel.

O canto que explodir
dessa massa de homens nus,
sementeará a terra do gozo,
de onde brotarão
todos os tormentos da jagunçada.

E o céu se fará azul
e cheio de nuvens, a mandar
uma chuva inteira de estrelas,
que bordarão o traje de gala
para a noite do padroeiro.

E o homem chorará de alegria,
e a mulher chorará de alegria,
e a criançada brincará sem culpas
aos pés da estátua do santo
e nos brinquedos de quebrar.



A LUA-2006


Quantas faces tem a Lua,
esta arrogante criatura,
que carrega em seu colo
um vinho de boa safra
e um panegírico cor de rosa?!

E contra o homem
arremete com a força
e o peso do corisco,
e lhe sapeca um guiso
no pescoço, corpo que cai!

Qual dentre essas faces
é aquela verdadeira,
que lhe revela inteira
e lhe eleva sorrateira
às calendas da paixão?!

E qual, ainda, escamoteia
a sereia desenhada na pedra,
o calendário chinês,
o sexo da heroína de Tróia
e a rapidez do revólver na tela do cinema?!

Qual lua me desvela e arruína?
Se cheia, consola e pranteia,
se nova, noite de salteadores,
se minguante ou crescente,
sol nascente e oração!

Que segredos da Lua
são contados por duendes e estetas,
por estrelas e planetas,
por caracóis e dinossauros,
por sentinelas e príncipes?!

A folha que cai na terra
tem dois metros e meio de lonjura,
a Lua no céu, esfera.

Um homem é morto
com um tiro certeiro,
a Lua no céu, esfera.

Um sonho é um doce
que se devora em minutos,
a Lua no céu, esfera.

O poema, e seus cânticos,
é dito da boca pra fora,
a Lua no céu, esfera.

O santo da casa
faz um milagre por dia,
a Lua no céu, esfera.

A Lua no céu, espera
o milagre de um deus
que lhe ame e adormeça.



ANTI ODE A UM POETA
ENVELHECIDO EM
BARRIL DE CARVALHO-2005

a Caetano Veloso


Quando os raios do sol
dormirem no espelho da tua cama,
tu vais ver quem bem te ama,
ser quem melhor te engana,
a flor do Chico ao meio dia,
embriagado em vinho e lume.

Quando te encontrares preso,
me libertarei da tua prosa,
da tua verve, da tua rosa
de Hiroshima mon amour;
teu Godard distante,
o errante navegante.

Caminhando a favor do vento,
o pensamento não mais te alucina;
apenas te conhece e contamina
o teu sol das américas,
de sheilas, sangalos, seletas
naves mercury, em moedas de mercúrio.

Porquê és lindo, poeta,
em tuas ondas, teu mar
de harpias, piranhas,
que nunca vão ter teu axé,
a pílula que não tomaste
e a anti música do Tom Zé.



BARRULHADAS

a Euclides Amaral e Eduardo Ribeiro


Visto um bêbado de teias
e tatuagens coloridas,
que não decifro
nem carrego, de pesadas.

Toda humana brevidade
que me toca o verbo,
não respira sexo
nem um moribundo coelho.

Não me aposso de casas,
não me fracasso outra vez,
não badalo sinos
nem espantalho-me todo.

Meu escrito ébrio
descreve uma rota de colisão
entre a tarântula do jardim
e o avião que apita na curva.

Um trem sobrevoa-me
a alma em desatenção;
qualquer poetância tosca
salva-me e me funda.



CAFÉ COM PÃO-2007


A cidade dorme,
à noite dorme.

Prédios,
luzes apagadas,
dormem.

A cama de hospital,
a hemoptise,
o barulho do trem.

De tudo isso,
saudade mesmo,
só do barulho do trem.



CANÇÃO DA NUVEM QUE PASSA-2008


A nuvem que passa,
não existe
entre o cérebro
e a certeza.

É dor por nada,
solidão superlativa,
entre a sarjeta
e o castelo de cartas.

É porrada certa,
arroxeando a alma,
entre o nexo
e o incomunicável.

Não são infinitos
os gritos da dor,
mas intercalam-se
até o infinito.

E entre essa finitude
e a porta, que não se abre,
resta uma fresta
chamada vida inteira.



OUTONO DA ESPERA-2006

pro Igo, meu filho


A saudade, feita
de ásperas sombras,
dói uma dor
que só a presença revoga.

E nas lonjuras
do coração apertado,
saudade que sangra
o caramanchão da janela.

Não cabe mais
a sentença que se esgarça,
nem a angústia
que finca estacas no jardim.

Esbraveja o silêncio,
como cacos de vidro
que cortam meus olhos
dos espelhos d’água.

Aturdidos, os ossos
viram nuvens, que ditam
o ritmo do poema
e o frio da noite de espera.



PAIXÃO DE RUA-2003


Apaixonei-me pela Lua.
Paixão vira-lata, vadia, de rua;
que ladra, agarra,
beija, aconchega,
mas não morde;
minha paixão de rua
não me fode.

Dessa paixão me acometo,
me arrependo, me arranco o couro;
paixão de esmeralda, de prata, de ouro,
que brilha no escuro,
mas não morde;
minha paixão de rua
não me fode.

Paixão mesquinha, correta,
sem amor;
arranha, molha,
seca, molha de novo,
mas não morde;
minha paixão de rua
não me fode.

Enfim, paixão vazia...
só um buraco negro no peito,
sem mato, sem mola, sem leito,
fera sem dente
que não morde;
minha paixão de rua
não me fode.



INEVITABILIDADES-2007


A bala perdida
encontrou-se ajoelhada
no olho do furacão,
onde não há sobrevida;
e a canção é sempre
um réquiem para a vida.

O corpo que cai dominado,
aos pés do inimigo glorificado,
menos sonha que destrói,
é rasgo e sangra na ferida;
e a canção é sempre
um réquiem para a vida.

Do temporal que vem de cima,
da nave que afunda no oceano,
da brisa que desconjunta-se toda,
o céu é o ponto de partida;
e a canção é sempre
um réquiem para a vida.

Não existe pureza nem poesia,
nem santidade nem fantasia,
no vestido que brilha
sobre a pele da estrela enlouquecida;
e a canção é sempre
um réquiem para a vida.

Como um duende ferido,
um curupira sem floresta,
o vôo cego do trapezista
e o riso amarelo do palhaço,
a canção é sempre
um réquiem para a vida.



O SOLDADO E O SONHO-2008

a Tanussi Cardoso

Nada existe
entre o poeta e a palavra,
que não seja
denso corredor de sonhos.

A vida, aqui fora,
clama pela falta
da ternura desnecessária,
que assola os poetas.

É pra se crer,
mesmo sem ver,
que o deus dos sonhos
morreu afogado?

À primeira noite
da crise do sonho,
não lhe foi permitido ser deus;
morreu soldado.

O poeta e o soldado,
munidos de seus sonhos
e espadas,
lancetaram a escuridão.

E o corredor de palavras
iluminou-se feericamente,
inundado por vagalumes
e menestréis em casacas.

Um casal de rouxinóis
casou-se entre padres e pastores,
e fez-se a festa
e o regalo das flores.



A SOMBRA DO PINHÃO-2009


À sombra voluptuosa
do imenso pinhão,
demônios de fraldas
batizam catedrais
e clérigos sem caráter.

O pinhão é verde
como as vergonhas das moças,
que se deixam possuir
por santos de pau oco,
em mesas esotéricas
de alquimistas carecas.

Sob a densa fumaça
do céu de anjos parasitas
e deuses sem pudor,
a sabedoria jaz,
nua e fria,
entre catacumbas e tesouros.

Explodiu-se a poesia.
Tudo virou fel e ácido
e a nojeira vociferante do tempo
repaginou as tábuas da lei.
Deus não está morto
e ri às gargalhadas.