segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

POESIA

O PIVETE DO BANCO DA FRENTE


Bagunça geral,
falas altas,
pivetes brotando
pelo ladrão;
a favela toma conta
do bus car.

No banco em frente,
um pivete magricela,
que entrou pela janela,
tem a tristeza nos olhos,
como um alce num filme
do neo-realismo italiano.

Não sabe da vida,
nem sabe se vai crescer.
Apenas tem a tristeza nos olhos,
como um alce num filme
do neo-realismo italiano.

Rio de Janeiro, 29/01/2011

POESIA



O MENINO MAU
(Reminiscências)



Cheiro de terra molhada
e as lembranças da minha terra,
com cheiro de terra molhada.
Três gaiolas, cada qual
com um passarinho.
Em cada uma delas,
um alçapão com alpiste.
E lá se ia o menino mau,
a caçar novos cantos
pela terra de cheiro molhado.
Sobre um ombro, a baladeira;
e na cintura, a sacolinha
de pedras assassinas.
Pousado sobre o galho molhado,
o anum preto pede a morte
de cabeça erguida
e canto triste.
Uma só pedra assassina
o abate. Para nada, que não seja
o prazer do menino mau.
E o menino mau era eu.

Domingo de missa festiva
na Matriz de N.Sa. do Rosário.
E alegrias ao lado,
nos brinquedos da pracinha.
Meninas branquinhas
saltitam em tafetás
de cores clarinhas,
pelos brinquedos.
Vestidinhos brancos,
amarelos, azuis,
cor de rosa; todos clarinhos,
acompanhados de calcinhas
da mesma cor.
Mas lá adiante, um posto
de combustíveis, com suas
prateleiras de latas de graxa,
ao alcance da mão grande
do menino mau.
E lá se ia o menino mau,
sujar o escorrego, o balanço,
a gangorra, o carrocel;
e apagar as calcinhas das meninas.
E o menino mau era eu.

E um vigia manco,
a vigiar o parquinho,
perde sua muleta
pras peripécias do menino mau.
Muleta que voa, voa!
E aterrisa num terreno baldio,
de onde urtigas voadoras
também voam, direto
para o braço da professora,
na aula de ciências naturais.
Surra à vista!
Mas o menino mau
era mau e não se emendava!
E o fogo ardia no armário do quarto,
no primeiro aniversário
da irmã mais nova.
E o menino mau era eu.

Rio de Janeiro, 10/01/2011