MELANCOLIA
O
Nordeste nublado
e
a saudade do teu rosto,
céu
a sangue pisado
e
a vontade do teu corpo.
Corredores
não são meus,
só
pastilhas de hortelã;
meus
doces santos ateus
não
acordam nessas manhãs.
Minh’alma,
de tão cansada,
fere
o corpo, esfria o Sol,
canta
em fria madrugada,
a
saudade em mi bemol.
O
dia se abre em ocre,
o
vento não cabe mais,
o
camelo é triste e sofre
a
falta que a casa faz.
A PALAVRA TINTA
Jamais me amarro
à palavra corda.
A palavra, quando
corda,
não arrebenta no
ante-verso
do poema escrito.
Mas se antítese,
barbante frágil,
a palavra não resiste
aos sobressaltos
do poema áspero.
No céu das palavras,
a palavra linha, a
palavra pipa;
e um cerol mal
escrito
e cheio de si,
a conspurcar-lhe as
cores.
Só a palavra forte,
feita de vento e sol,
sobrevive à
brutalidade dos desejos
e ao silêncio
exasperante da morte.
A palavra só é
matéria
quando tinta.
NO RECANTO MAIS ESCURO
No recanto
mais escuro
do que se
chama prazer,
mergulhar
de rosto e alma.
E lamber
tudo,
até o botão
mais saliente;
e deixar o
corpo fremer
em
prazerosa concussão.
Escrever no
retrato
da mulher
amada,
as mais
deliciosas sacanagens.
E amá-la! E
amá-la! E amá-la!
É o que
manda a lei.
E jamais
desobedecer
às leis
libidinosas dos sentidos.
Fode-la com
força!
Sem pudor e
sem recato,
que montanhas,
e florestas,
e vales
despudorados,
não se fode
com recato.
No recanto
mais escuro
do que se
chama mulher amada,
sorver o
néctar, derramar o leite.
todos do livro O VADIO DE CASACA,
no prelo